E agora? – Parte II


[Nota do autor, 30 de agosto de 2023: a primeira parte deste texto já se encontra disponível aqui]

Antes de proceder à análise é importante ter em conta os dados eleitorais, porque provou-se que as sondagens, às vezes, não espelham a realidade, mas sim a vontade de um grupo em particular.

O PP ganhou as eleições, não se pode negar, com mais de 30% dos votos e 136 deputados. O PSOE, contra todos os prognósticos, ganha 1 milhão de votos, ultrapassa os 30% e obtêm mais dois deputados. O VOX perde 19 deputados, passando de 52 a 33 e 12,6% dos votos e o Sumar consegue, praticamente num mês, recompôr o espaço à esquerda do PSOE, que tinha saído completamente derrotado das municipais, e obter mais de 3 milhões de votos, o que se traduz em 12,3% e 31 deputados. Ainda assim, não consegue os 35 deputados do Podemos. Não foi, somente, a extrema-direita que sofreu perdas significativas, dado que na Catalunha o terramoto foi ainda maior para as forças independentistas. A campanha da ERC, que se baseou em tecer ataques contra o Sumar e a equiparar Yolanda a Abascal, correu mal à social-democracia independentista, que viu a sua representação reduzir-se, sensivelmente, em 50%: passam de 13 deputados a 7. Também o centro-direita catalão perde, se bem que menos, passando de 8 a 7 deputados. Os anticapitalistas independentistas da CUP perdem os dois deputados que tinham conseguido há quatro anos. No campo basco, os democrata-cristãos do PNV perdem 1 deputado, mas a esquerda basca do Bildu consegue 6, um mais do que em 2019. Com os dados introdutórios disponibilizados, passemos ao que realmente importa.

Da esquerda para a direita, Yolanda Díaz e Pedro Sánchez

O debate final nas eleições espanholas, focado em Yolanda Díaz, do Sumar, e Pedro Sánchez, do PSOE

Fonte: VOX España, CC0, via Wikimedia Commons [adaptado]

Os resultados eleitorais destas eleições são positivos na medida em que a direita e a extrema-direita não alcançam a maioria, nem com os conservadores navarros (União do Povo Navarro-UPN), nem com os nacionalistas canários (CC- Coligação Canária), com os que governam nas Canárias. Contudo, quando comecei a escrever esta análise, a relação de forças entre o Bloco Conservador (PP/VOX/UPN)+CC e o Progressista (PSOE+SUMAR)+nacionalistas e independentistas era a seguinte: 171 deputados para o primeiro e 172 para o segundo, num Congresso composto por 350 deputados. Se tudo se tivesse mantido assim, tal e como acabo de escrever, Pedro Sanchéz e Yolanda Díaz poderiam revalidar a coligação de governo com a abstenção, difícil, mas não impossível do Junts, sendo Sanchéz investido Presidente do Governo numa segunda votação, na qual o candidato já só necessita mais votos favoráveis que em contra. O problema é que o voto exterior, o chamado voto CERA, veio desequilibrar este, já por si, frágil equilíbrio. A esquerda arrasou no voto exterior, contudo foi a direita que cantou vitória em Madrid por ter conseguido um deputado em detrimento do PSOE, fazendo com que o bloco reacionário alcançasse os 172 deputados e o progressista e plurinacional baixasse para os 171. Neste cenário, a dupla PSOE-Sumar precisa do voto favorável do Junts, sendo a sua abstenção insuficiente. Feijoó não tem, por isso, a sua investidura garantida, pois o deputado que o PP elegeu em Madrid, através do voto exterior, tinha pertencido aos conservadores navarros do UPN na legislatura que agora termina, tendo sido este comprado pelo PP para impedir que o UPN apoiasse o texto da reforma à lei do trabalho da ministra Yolanda Dìaz, furtando-lhes, assim, a sua representação no Congresso dos Deputados.

Poderá o UPN abster-se ou votar favoravelmente a Sanchéz? Não sabemos e não me vou dedicar a fazer futurologia. O que está claro é que existe uma maioria alternativa à dupla PP-VOX e que terá de se sentar a negociar uma solução que impossibilite uma repetição eleitoral ou um governo da direita radical. Se o diálogo vencer, Espanha e a Europa vencem.


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